sábado, 25 de fevereiro de 2012

conta me uma história

era uma vez um menino tripeiro e uma menina benfiquista
eles foram ver um concerto e ficaram ao lado um do outro
e deram as mãos

os mindinhos!

ficaram ao lado um do outro e deram os mindinhos
no fim do concerto, não sabiam o que dizer um ao outro
uns dias depois, depois de muuuuitos olhares, o ferreirinha foi tocar ao ondajazz
trombone baixo, uuuuuuuuuuu
e convidou o menino tripeiro e a menina benfiquista para irem ver o concerto
ficaram na mesma mesa, os dois sozinhos
e depois de muuuuuitos olhares,
o menino tripeiro e a menina benfiquista deram um beijo
e depois começou a chover lá fora
e depois perderam o 15 e foram a correr até ao cais do sodré
e o ferreirinha
que toca trombone baixo, uuuuuuuuu
ficou à espera que o menino tripeiro e a menina benfiquista dessem mais um beijo à porta do táxi
muito tempo depois a menina benfiquista foi para muuuuuuuito longe
para a hungria passar três meses e meio
e o menino tripeiro esperou
esperou
esperou
muuuuito tempo
e depois ela voltou lá de muuuuuito longe
e foi muito muito muito bom

e o resto da história fica para amanhã, vá laura, vamos dormir

ooooohhhhhh mas mas eu não tenho sono..


[e foi assim que me deste os parabéns por onze, onze, onze, onze, onze meses]

e no fim disseste 'não percam o próximo episódio porque nós... também não!'
fogem dos vidros, explodem dos vidros, a primeira desbrava o carreiro e as seguintes imitam.
juntam-se no pescoço e descem o decote.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

o meu relatório erasmus não quer ser preenchido, assim o resto da bolsa não vem, eu quero lá saber, é só mais uma burocracia igual às outras todas, estou por aqui com palavras-chave com letras e números encafuados no mesmo espaço como se pertencessem ao mesmo alfabeto. não pertencem. é como eu e a minha querida rotina, caracteres antitéticos.
as minhas ideias não correspondem ao que sai, ontem na aula perdi a minha pouca eloquência, quem me achou eloquente já me deve ter perdido o rasto há anos, perdi a eloquência toda com medo não sei de quê, a insegurança toda de me deparar com o degrau acima, com o escadote todo acima, ainda por cima tudo certo, só as minhas ideias parecem zarpar mais rápido que as competências/capacidades/o raio que chamamos agora que usamos palavras caras, estruturas, orientações, desenvolvimento. é simples, para quê fingirmo-nos, toda uma erudição falhada no mais básico dos conceitos/conteúdos/estratégias.
o orgulho confiante que me assola noutros campos é completamente arrombado por isto[s], a fluidez da semana escorre e depois só pinga, pinga, pinga, eu não consigo viver aos pingos, aos borrões, podia tentar a parte azul da borracha mas tenho a cortante sensação que não vai adiantar.

são novelos. novelos de lã macia. mas com farpas de tétano.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

des

ando com umas desvontadinhas.


à desvontade na minha própria carapaça. couraça, soa mais forte e animal.

não é sem vontade, é diferente. é só uma desvontade pungente.

des. des. des.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Um 'hoje' qualquer

Espreitar pela lateral, ver a 'minha' sala do Pavilhão por uma rede de ferro,

ainda assim é possivelmente, provavelmente, definitivamente a sala mais bonita aos meus olhos,
cheia das minhas pessoas.


Lusco-fusco.

E um siamês a espreitar-nos do parapeito.

Pssssiu.

Está a olhar para mim..

10 Fev, 19h - são sete da tarde e está-se tudo a passar

Escrevória fotográfica


Quem me dera. Assim mostrava-vos a figura alta, eleganta que descia as escadas reais ao lado do seu parceiro. Esperava de tantos em tantos degraus e olhava inquiridor, porque não vens mais depressa?
Todos lhe sorriam, os que iam e vinham na escada rolante [uma vez escreveste tão bem sobre isto, sobre conhecer e ainda assim sentir o fosso, esta história é sobre o contrário, não conhecer e sentir tão perto, um sorriso com os olhos é mais effective que trinta com os dentes, a amizade não se regula pela quantidade de vezes que vemos as gengivas de cada qual, dizia, esta é sobre o contrário, que se escrevesse a nossa e tudo o que lhe vai na alma, a essa personagem que éramos nós como uma, doía demais] De tantos em tantos degraus o cão alto e elegante, branco e preto manchado desorganizado, sorria com os olhos só ao seu dono, o seu parceiro.

A miúda atrás dele, de cachecol vermelho e a ouvir madrigais com o volume no máximo era eu.

pargoletti amori nos ouvidos

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

5 Fev - se isso for domingo.

Sentada na Bertrand do CCB, cheia de vontade[s] de escrever sobre o rapaz de colete laranja e preto, em qualquer outro provavelmente ficaria mal, em ti é diferente, despercebido, como é que fazes com que laranja seja imperceptível, inaudível, inodoro, és um camaleão [que engraçado, cama, leão, serás?]
mimetismo puro a maneira como te inseres nas estantes, agradeces,
obrigado, boa tarde
sem aquela solicitude arreganhada do funcionário sôfrego por agradar,
não ao cliente, ao supervisor,

que as paredes escutam.

dizia, a voz sem a solicitude, só calma mas alerta, inteligível qb, pedi-te o último livro da autora tal, saíste-te logo com o nome do volume, encontraste-o e deste-mo, não me deixei impressionar, esta era fácil, chega o João de sobrolho franzido

fobrolho sanzido,

sabe o livro tal,
tu

zumbas
o autor,

ele riposta
[esse se calhar era fácil]
pois, mas uma edição acerca do tal,
tu entendes a linguagem, e na tua forma de parasita intravenoso dos livros respondes plano,
sim,
como uma comparação.

Quem diria, a tua sabedoria de quem vive para, com e entre os livros, para, com e entre
as letras.

Se te perguntasse aposto que me respondias:
sim, também posso recitar Cesariny

e aí eu era uma mulher feliz.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

fatias de ovos

é uma tarde de sol na casa nova do tojal, comigo a ir tirar os coelhinhos à mãe e a brincar com eles.

e é a minha avó num prato.
fatias de ovos. pão ovo leite açúcar canela.

esta é a minha parte favorita, depois vocês vão escolher a vossa, mas esta é a minha

Sobrevivi a hoje. Sobrevivi à semana inteira.


E acho que consegui dar a volta por cima.


Num compasso ternário, fosse ele alemão ou francês, ou ainda um binário italiano.

Provas, confiança, fogo, o mar a bater contra as ondas, escala de tons inteiros, harmonia colorística, fui o A, o T e o VP.


E consegui. E esse orgulho imenso de conseguir melhor do que pensava ou de conseguir por si [por mim] só, é descobrir alternativas. Eu podia ser esta pessoa. E talvez não fosse menos feliz por isso.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

1555

Seis e pouco.

Novos, estilosos, cheios de pinta. Via-se que estavam juntos apesar da parede de vidro/acrílico/papel transparente no meio deles, apertados num daqueles lugares aos trios de frente uns para os outros, nos meios dos metros.

Ela suspirava de vez em quando [a minha mãe chamar-lhe-ia 'impava'], ele fingia não reagir mas mudava o olhar quando sentia a onda. Onda de choque, suspirava com força.

Passado um pouco, o filme mudo. Ela desabafava, ele anuía, ela suspirava de novo e abria muito os olhos a fitar o tecto.





Ele limpava as lágrimas dela com o dedo desajeitado e não arredava pé dali.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

camisolas berrantes

não são só as camisolas berrantes, muito menos as papoilas saltitantes que nunca me pareceram uma boa analogia.

foi só já ter estado naquele mesmo lugar [já nem sabia que tem uma plaquinha com o meu nome] com todos os estados de espírito possíveis, distraída, concentrada no campo, cheia de vontade que acabasse, a vibrar com o sentimento uno de um espaço tão grande tão cheio, com vontade do intervalo, já aborrecida só de pensar na televisão ligada na tvi nesse mesmo intervalo, a saber decor os jogadores, a discutir bola com os senhores da fila de trás [que ainda me tratam por 'menina'], ooolha quem cá está, cheia de vergonha de toda a gente, menina pequenina a querer esconder-se atrás do pai, com um date ao lado, com um possível date ao lado, com os meus irmãos, pais, amigos, cheia de queijo e presunto e coisas boas do museu do pão, cheia de nestea manga-ananás, de mãos dadas a rezar por mais um golo, tão cheia de frio e de chuva que só me apetecia correr dali, a fazer segundas vozes das cantigas dos NN, a analisar cada 'modulação', a gritar tímida os primeiros palavrões à frente do pai, é bola, pode-se, de saltos, de cachecol eu amo o benfica, orgulhosa do título fundador, embasbacada com a magnitude de um estádio cheio, a gritar de raiva, está fora de jogo, oh idiota.

hoje ganhámos, e eu estive lá outra vez para ver.






que emoções tão boas. tão primárias. e tão, tão boas.
eu gosto de ir à bola. 'ir à bola' assim mesmo.

sempre me aproximou do meu pai. hoje, aproximou-me de ti. de botas, calças de ganga, polar, cerveja na mão, a gritar impropérios e a cantar os hinos.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

trânsito

o melhor do trânsito são mesmo aqueles carros com um farol apagado.

rio-me, acelero, e pisco-lhes o olho também.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

L'art de toucher le clavecin.

Foi com Couperin que comecei o meu dia.


Logo depois de me convenceres a levantar, persuasivo.. fugi para o cravo, estava aberto desde ontem, estive a estudar coisas que afinal não interessavam, meu querido cravo verde e d'ouro deixas-me fazê-lo, eu sei, era Debussy, tive sorte que tinhas as teclas todas, parece que te esticas para me ajudar, senão mais uma oitava, mais uma quinta.

Fugi e toquei pela primeira vez em anos. Tocar mesmo.

Comecei pelo primeiro, titubeante, foi o meu primeiro favorito. Daí segui por ordem, o quarto fluía já como se ainda me lembrasse de tudo. Dedilhações e ornamentação.

O meu cravo. O nosso amor é mesmo verde - verde com ornamentos d'ouro.