terça-feira, 30 de abril de 2013

105 gramas de línguas de veado mais torradas nas pontas

seis minutos e cinquenta e dois segundos de ti ensonado
oitenta e cinco minutos de fascia nas mãos dela
trinta e cinco minutos de trânsito
cinco horas de sono
andando andando às arrecuas
chegamos onde?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dezoito graus lá fora

A lua quase cheia, eu a mil e cheios nós. Preenchidos. Um dia escrevi sobre os buraquinhos que precisamos de tapar, era isto. Colmatar os furinhos, deixá-los prontos barragens relvas óculos para se aguentarem até lá.
Para se aguentarem até já.

Até já.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

the importance of being earnest

'estamos num tempo em que as pessoas não dizem o que realmente pensam.'


o mentor da minha mãe morreu.

'as experiências mais bizarras..
com aquele feitio estuporado dele.'



o mentor da minha mãe morreu, e eu comovo-me tanto como ela, com o que ela diz, com o que ela escreve, com a aula que ela hoje deu aos seus alunos, aula essa com o título que pus ali em cima. a importância de ser, não só Ernesto, mas honesto. que ele era. mesmo assim, e claro que assim, com o seu 'feitio estuporado' [que riqueza de expressão, mãe!] e a maior homenagem que se pode fazer a um professor que não dá respostas, mas que faz tantas perguntas que impele a argúcia do aluno sozinho, é mesmo esta: a de o contar numa aula.

bravo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

é uma daquelas pessoas a quem pergunto se está tudo bem, mesmo não me interessando minimamente pela resposta

fazemos isto muito mais vezes do que imaginamos.
é um sem fim de olás bons dias tudo bem estás bem ou quê
e no fundo, nem paramos para ouvir e às vezes dá-se aquele caso:

- olá, tudo bem?

- vai-se andando, e contigo?

- tá tudo e contigo?

que nos denuncia.



terça-feira, 16 de abril de 2013

belém, esplanada, tu e uma cerveja

15.abril.13 18h52

e a questão do toque?
qual é a coisa?
pernas entrelaçadas debaixo da mesa, a forma primária da sedução
[primária na sucessão, não de todo na essência]
há pouco as dela entrelaçadas nas dele, os corpos inclinados para o oposto,
escondemos em cima da mesa o que sentimos por baixo,
onde é que eu já vi isto.

irónico, a tua mão no meu joelho agora, a brincar-me a perna, se tu imaginasses provavelmente rias-te, mas estás distraído com o braço frio que o sol poente já não aquece.

aquece só por dentro, meu querido

'já estás a fazer asneiras, não é? posso ler?'

segunda-feira, 15 de abril de 2013

da sertã

'isto merecia um quadro'

'o quê?'

'isto. nós aqui no telhado, com a vista. e a cantar as sombras.'



ia ser um quadro incrível.
umas quantas pessoas num telhado
'cuidado não venhas pelo meio, é instável, vai ao pé do corrimão'
umas pessoas, eram as minhas
outras, eram outras, novas
com queijo e tostas
e silêncio enquanto cantámos. duas vezes. fá maior com si natural.
de noite tudo são sombras, não nos víamos bem a cara, não nos sabíamos os nomes.
ainda assim, partilhou-se a noite, num terreiro novo, a primeira a saber a verão.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

laura lispector.

'Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Afinal, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem beijos quentes ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de bonito. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho. E pra seduzir somente o que me acrescenta. Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que as vezes me cansa. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, voracidade e falta de ar!'


e pra seduzir somente o que me acrescenta.
acrescentar-me-te.
acrescentar-te a mim.
acoplar-mo-nos
acrescentados um ao outro
com corpo, alma, voracidade e falta de ar
como o querer
intenso
dramático
transitório?
talvez. mas uma paixão de beijos quentes.

domingo, 7 de abril de 2013

isso mesmo.

ela repousava a mão no teclado

[que teclado seria?]

como se lhe tocasse.

como se esperasse.

os sentidos aptos

para o arder do toque,

os sentidos latos

prontos, descortinando

a espera.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

São 2h34.

Coisas que toda a gente faz:
Ahh.. são 02h16.. lá vou ter que esperar até às 02h20 para ir para a cama. 02h22, bolas, mais três minutos, vá.

Coisas que nem toda a gente faz:
*já na cama*
Gah, 02h31.. agora dormir só às 03h00!
*facebookblogsmailmeteorologiajogoidiotaquenuncajogasduranteodiaederepenteficainteressanteblogsmailfacebook*

terça-feira, 2 de abril de 2013

13h30, 13.3.13

SegSocial do Areeiro

boa tarde, tenho uma marcação para a uma e meia
qual é o nome?
Laura
Laura? [sorriso aberto] é o nome da minha filha!
bom gosto!

Nem tudo é mau numa repartição.

Dois polícias:
Tchauzão!
Vá.. Continuação!


continuação? de quê, exactamente?

[será que a minha senha é a única que não anda?]

[[que medo, a voz lancinante que ecoa por aqui é a da bola de berlim de óculos que está a atender a minha senha. fingers crossed que seja agora a hora de almoço dela e que aquela sandes que está a mastigar - aposto que aquilo é uma migalha, ali na bochecha esquerda - a sandes seja só aperitivo, a berliner não tem nada ar de desprezar um almocinho de faca e garfo soprapratopãosobremesacafé e ficar aqui a grit.. perdão, atender beneficiários com um super zelo de funcionária dedicada. foge, bicho, foge!]]

[acho que a sandocha é infinita. mais um utente, mais uma dentada, daqui faço uma estimativa de mais três dentadas para se acabar o petisco, faltam dois números para a minha senha, tu queres ver que chego lá e ela mastiga o último pedaço devagar e languidamente, só para me fazer pirraça?]

antes isso que me dar uma dentada a mim, por me ter esquecido de preencher um requerimento ou pagar uma contribuição.

hojes

hoje foi assim. estavas bem disposta, divertida.

sorriste mais. e foi bom, não foi? por uma vez, não duvidaste.
e quando não duvidas é bom. é quente, morno e pequenino.

não importa absolutamente nada o des
des brio
o desbrio com que te movimentas

['ainda me diz a minha mãe que não tenho brio']

não importa hoje. s. em loop..


em loop suspiras fundo, adormeces em paz, sorrindo como no resto do dia, como se tivesse estado sol.

não estou poeta, hoje. tem dias. hoje não estou poeta, estou [...sim, é isso.] e nem eu própria vou compreender-me a cem quando me reler.



Johnson: Have You Seen The Bright Lily Grow by Sting, Eden Karamazov on Grooveshark

sing on, sing on. if music be.