sábado, 12 de março de 2016

o medo da parede branca

o medo inquisidor da cor branca
uma não-cor que engloba as cores de todas as letras que me ficam entaladas
o lobo antunes escreveu uma vez que tinha um certo medo da página em branco, mas que até então tinha tido a sorte de a mão e a caneta não o terem e acabarem por a preencher

não é que pense menos poeta que antes
ou menos ainda que me compare a ele

é só que os enleios das ideias tendem agora para se enrolar sobre si mesmos
entopem-me completamente, as palavras engasgam-se nas suas próprias ligações, e uma pessoa 
[quem, eu?]
uma pessoa vai andando e olha
de repente é março e não escrevi ponta desde outubro

se calhar foi-se

os amores e desamores que me inspiravam morreram
outros ainda mal chegaram a nascer
e um outro medo, esse sim, maior
acaba por me entupir de tal modo que o nó na garganta
um me impede de cantar
dois pelos vistos também me impede de escrever

sem esses dois não sou.

é só que tenho saudades de escrever


aos poucos. talvez me consiga ensinar de novo a fluir, e não tema esta insegurança do escrevereapagar. talvez faça parte. talvez reaprenda a amar. talvez não tenha tanto medo da morte. talvez entenda que cantar ainda me faz feliz. talvez. talvez.

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