domingo, 18 de outubro de 2015

um pudor inanimado

mas premente
presente

um pudor intrínseco e inerte
nunca activo
mas deteriorante

nunca velho
nunca impaciente

um pudor parasita
mas vizinho

um pudor de estimação.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

sexta-feira, 10 de julho de 2015

minúscula

as palavras são a única coisa que não me falha
por mais que divague do amor fraterno
nada me falha menos que as palavras
pudesse eu e casava-me com elas já
sim, se é eterno caso-me com a arte intrínseca já hoje
e não há mais com o que me arreliar
as palavras são performances
mitos e verdades simultâneas
shows de uma só personagem
ainda assim não solitárias
incoerentes inconstantes impossíveis
mas ainda assim são as que menos me falham, elas
uno puro e incondicional
só mesmo este da arte
só mesmo esta poligamia desmedida
de amar as palavras por igual
dando-lhes a justeza que não encontro para mim

domingo, 5 de julho de 2015

pareço um peixe

se os peixes tiverem garganta que dê para fazer nós
se conseguirem ficar sem respirar muitos segundos só porque parece que se esquecem de como é
inspirar uma acção activa
uma estranheza nos sítios casa
um nó na garganta tão atado que nada entra nem sai
isto do pouco oxigénio dizem que tolda o pensamento
no caso tolda-me as mãos que escrevem
o frio que me arrepia as pernas é de dentro
afinal até está calor
mas quem está vazio por dentro tem que ter corrente de ar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

nos últimos cinco anos só amei homens chamados joão

five years of a name
one two three without four five

não feches os olhos, querida
é-te mais difícil acordar

quinta-feira, 11 de junho de 2015

direitinha ao coração

uma farpa
uma fffffffffff
farpa das mais afiadas

vem em forma de sorriso e bolo de morangos
mas sem saber é uma farpa e senta-se
senta-se bem sentada no lado esquerdo do meu peito

ironias de amor materno
matando em fios o amor eterno

segunda-feira, 25 de maio de 2015

the sex was not that good anyway

finais esperados
reticências antigas a puxar os finais dos finais para perto
tão perto que nada mais se vê à frente
só uma parede
wall wall wall
uma parede cada vez menos fácil de quebrar
as cicatrizes dão-lhe volume, é um fenómeno físico automático

finais não assim tão preparados
mas estranhamente fáceis
dóceis quase na sua ignorância agressiva
e as certezas de certas coisas tornam-se
à espera da sabedoria da idade
nas certezas absolutas de futuros
nas certezas absolutas dos outros

segunda-feira, 18 de maio de 2015

maio

é um exílio de lugares e volumes que passam




um mote para futuras escritas?

terça-feira, 5 de maio de 2015

tu devias era apaixonar-te loucamente por alguém

pois era, mas não há espaço na cabeça para ver ninguém à minha volta
tudo entupido ainda
uma urgência que não sai
entalada à flor da pele
a não me deixar respirar, a não me deixar respirar
a não me deixar comer e a não me deixar respirar


domingo, 19 de abril de 2015

arroz para um

ser sozinha é perder a noção ao cozinhar
quão triste é cozinhar para um?

limpar as notificações
ignorar o telefone que toca
estar exausta não saber porquê
será que a janela ficou aberta?

mentir
deixar de ser poeta aí
porque o poeta nunca mente
engana-se redondamente
mas mentir não mente
acho até que o poeta é incapaz disso
porque assim perdia o título
o sindicato dos poetas tirava-lho por certo
e lá se ia o subsídio

foi-se-me o subsídio
com uma mentira destas foi-se-me vitalício
se calhar foi só por ser domingo

fecha os olhos e descansa agora prosadora
que
se calhar

foi só por ser domingo

terça-feira, 7 de abril de 2015

tu.


tu sabes as coisas que sabes
clamas que o que sabes fui eu que te ensinei
mas o que me ensinaste acima de tudo foi de ti

aprendi-te aos poucos
aos tropeções e solavancos
mas o que é facto é que me levantei sempre
e te aprendo ainda

sei-te coisas que nem tu te lembras
coisas que te fariam rir se as soubesses
as banais e as outras, mais fundas
aquele sinal vermelho na cabeça debaixo do cabelo
a predilecção pelos cheiros em vez dos outros sentidos todos
como te comoves com o belo
e comoves-te sempre com o mais simples do belo, é verdade

tu sabes cada vez mais de tudo,
passaste-me à frente já há muito
acho que ambos sabemos disso bem
mas tu, querido, empoleiraste-me num pedestal
confias-me o teu âmago
mesmo que não saibas bem o que ele é

comovo-me eu com a tua paixão das coisas
com a tua rapi e rispidez
comovo-me sempre cheia com o facto de saber como te fazer rir

sonho-te e descubro que ainda sei mais do que me lembro
os caprichos, os azares
o que fizeste a semana passada e o que sonhas para o futuro
o que timidamente sonhas para o futuro
e mascaras de outras ambições

irrito-me ainda, por mais que o preveja,
com as pequenezes do teu ser
por mais que te conheça quero sempre surpreender-me mais
e ver sempre aquele. aquele tu que eu sei que existe
e que tive a honra de mo mostrares.

sei-te muito, e não foi fácil.
mas ainda mais hei-de saber.
basta aperceber-mo-nos destas portas escancaradas


sei, acima de tudo, que vales a pena.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

não tomo cafés com a minha auto-estima

de facto, não a conheço muito bem

poucas vezes me visita
acena-me de longe
às vezes só com o queixo numa leve onda para baixo
e atravessa para o outro lado da rua para não me encarar

quando me visita
há que admitir que fujo
só um bocadinho, toda a gente sabe que eu não corro
mas o suficiente para ela me perder de vista por uns tempos

o suficiente
só o suficiente para eu me voltar a enlear

terça-feira, 24 de março de 2015

decisões instantâneas

retoca o baton e finge
é isso que fazes melhor
portanto vá
endireita-te, respira fundo e finge

o baton tapa tudo

segunda-feira, 9 de março de 2015

searching for approval

é só para isso que vivemos
tudo. tudo apenas e só para isso
quem acha que faz por si e para si que se desengane
é só assim
de entre todos os tudos que conheci 
mesmo os mais egos eram equivocados
vivemos apenas para alguém
para aquela camadinha de aprovação
a anuência breve e casta de um fechar de olhos
um queixo que desce e que consigo leva as pálpebras
vivemos para isso ou para a aprovação muda daquele/quela que nos enche

[sempre mais para essa mudez, é o que nos vale]

vivemos para isso
tão certo como a morte
tão certo como a rectidão de uma vida que a vivemos fingida
porque a mentira abrange tudo
e achamos mesmo que somos por nós

ah ahahah.

sábado, 7 de março de 2015

semtítulo1

'só quando confiares mesmo em mim é que isto vai resultar outra vez.'


como sempre, a fazer muita força para isto. a esvaziar-me de mim, a engolir em seco, as pontas das mãos geladas e um tremor nos dentros.

o amor não mata. o amor

não
mata



mas as expectativas..









[[quando o frio vem de dentro não há cama que te aqueça]]

quinta-feira, 5 de março de 2015

'mas para ela todos dias são já iguais'

e rematas

'é triste mas é assim.'






91, avó [erme]linda. 91 anos de ti. guardo os meus vinte de ti toda inteira no recanto mais acolhedor do coração.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

your scars are holy places

[uma só linha, um compasso e meio de música. três vozes a desfazer o maior dos tabus. essas cicatrizes internas, quem pensa que só as há do lado de fora é porque nunca pensou por dentro, nunca se experimentou ler por dentro como que em braille, a usar outros sentidos para além do olhar. que virtude de dois gumes essa, a de se desenminhocar por dentro, que aguçados os gumes a afagar o ego do ser omnisciente e a perfurar mais fundo e mais agudo em cada dor.

engraçado isto:
ver-se por dentro
é igual a
ver-se de fora]





and so are mine.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

um daqueles dias

hoje é um daqueles dias em que vou ler o que as minhas pessoas escrevem
procurei algum conforto na minha ainda pessoa
soube a pouco, tem sido assim

relativizei, vi de fora, afinal eu hoje só estou assim porque
não era isto que andavas a querer há semanas, laura maria
porque me dei ao luxo de ter um dia off

e a merda disso é que me apercebo que devo ser alérgica a isto de parar
porque a reacção é de uma impotência tal que toda eu sou um desconforto
um aperto no peito de tudo o que me faz falta
e de querer controlar o que já não é meu

hoje é um daqueles dias em que o trigger point é uma coisa qualquer
foi um dos escritos da M.
ai de mim se agora relesse a carta do M.

é só pontos
pontos finais
pontos de fuga
pontos de apoio

e eu?

três pontinhos

sábado, 21 de fevereiro de 2015

das simplicidades

porque é que o amor não é simples, já

como o nosso era

um amor com sabor a verão que começou no inverno
como se querem os amores todos
amores de verão-inverno
a aquecer-nos os dedos

sábado, 14 de fevereiro de 2015

modo voo

só por meia horinha
a ver se carrega mais depressa

tem uma certa piada, quando entro eu em modo voo, voo a sério
carrego as baterias bem mais depressa

eu também tenho saudades vossas. mas, se não o disser, parece que custa menos
é mentira, eu sei
mas ao mesmo tempo que me aquece o coração cada mimo é uma farpa
a afiar ainda mais esta dormência da distância

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

persona

se puder ser a dos lábios cor-de-fogo
nem me importo de voltar a entrar em personagem

é mais inesperado o que se  segue antes do baixar da cortina
os dourados brilham menos
os pingentes são mais tímidos
consegues ler as rugas na pele e no papel

deste lado do palco

como não antes

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

'ler o teu blog é como ouvir Chopin

não é o meu estilo mas é bom'


elogios disfarçados
são tão quentes como quaisquer outros afinal